Cheguei cedo à Escola Cia da Criança para sentir o ritmo do pátio antes da campainha. Meu plano era acompanhar sem interromper: observar as brincadeiras, escutar o barulho das mochilas, entender como as turmas se espalhavam pelo espaço. Em formatura infantil, a fotografia acontece quando a curiosidade vence a câmera — e isso pede presença discreta e tempo de espera.
Comecei pelos corredores e salas, mapeando luz e dinâmica. Em poucos minutos, as crianças me esqueceram e os gestos apareceram: abraços apressados, sorrisos de dente mole, olhares concentrados em desenhos e peças de montar. Eu queria que as imagens contassem o dia inteiro, não só a cerimônia — um fio que liga recreio, atividades e encontros.
Quando chegamos à formatura, alinhei com a coordenação os tempos de entrada, entregas simbólicas e cumprimentos. Mantive a linguagem leve: retratos rápidos, atenção às expressões e aos encontros entre colegas, professores e famílias. No conjunto, a história completa — da energia do pátio ao brilho do palco.
A própria escola define o desenho das fotos. Pátios abertos pedem atenção à direção do sol; corredores e salas pedem leitura fina de janelas, lâmpadas e reflexos. Na Cia da Criança, adaptei o fluxo a cada ambiente para manter consistência sem podar a espontaneidade.
No recreio, fotografei um pouco mais longe, com focal mais longo, para não “entrar” no jogo. Em sala, baixei ao nível do olhar — a fotografia respeita a altura delas quando a câmera também se agacha. Na cerimônia, escolhi pontos fixos e trajetos curtos, garantindo entradas e abraços sem cruzar o caminho dos professores.
Essa leitura do lugar evita interrupções e rende uma narrativa coesa. A escola vira cenário, as crianças seguem protagonistas e a formatura amarra o dia. É assim que o álbum respira como lembrança de comunidade.
Em contexto escolar, a melhor direção é a que quase não se percebe. Em vez de pedir poses, organizo o meu ponto de vista: posiciono, aguardo o gesto e trabalho em camadas — primeiro o espaço, depois a interação, por fim o detalhe (um diploma pequeno na mão, um aceno tímido, um olhar orgulhoso de professor).
Na luz, priorizo o natural: exposição precisa, brancos limpos e contraste moderado. Quando passamos do pátio para a sala, calibro rapidamente para manter a mesma linguagem de cor e densidade. A edição final é discreta para que nada roube a cena do que importa.
No tratamento, busco continuidade: balanço de branco uniforme, nitidez técnica e correções pontuais. Quero que a pós-produção desapareça e que as imagens sejam fáceis de imprimir, compartilhar e revisitar.
Antes de fotografar, alinhei logística com a coordenação: horários, fluxos de turma, local da cerimônia e qualquer atenção especial. Essa conversa organiza o dia e me permite circular com discrição, sem interromper aula, recreio ou protocolo da formatura.
Com as crianças, a abordagem é simples: estar presente, no tempo delas, sem pedir “mais um sorriso”. O retrato acontece quando a brincadeira acontece — meu papel é observar e dar espaço para que o momento chegue.
Com as famílias, a prioridade é acolher: explicar por onde vou estar, como circulo durante a cerimônia e quando faremos retratos rápidos de duplas ou grupos. Assim, todo mundo aproveita o evento enquanto a fotografia cuida de preservar o que importa.
Escolas: compartilhem o cronograma e os pontos-chave (entrada das turmas, entrega simbólica, falas). Se possível, reservem um cantinho neutro para retratos rápidos de família após a cerimônia. Autorizações de imagem e comunicação prévia aos responsáveis evitam dúvidas no dia.
Famílias: cheguem alguns minutos antes, revisem uniformes e pequenos acessórios, e guardem um tempo depois da cerimônia para um retrato curto com a criança. Itens simples — água, lenço, grampo — resolvem imprevistos sem pressa.
Professores e coordenação: mantenham o fluxo natural. Quanto menos interrupções, mais verdadeiras as fotos. Se houver surpresas (apresentações, homenagens), avisem discretamente para que eu me posicione sem cruzar a cena.
BH oferece escolas com espaços diversos e deslocamentos curtos entre ambientes — perfeito para uma cobertura que respeita o tempo das crianças e a rotina do colégio. A cidade também facilita logística de impressão e entrega para as famílias.
Na Região Metropolitana (Contagem, Nova Lima, Sabará, Santa Luzia, Vespasiano, Lagoa Santa, São José da Lapa e Caeté), ajusto o fluxo à realidade de cada escola, mantendo padrão técnico e linguagem documental leve.
Mais do que “fotos de evento”, a formatura infantil é memória de comunidade: colegas, professores e famílias reunidos. Quando a fotografia cuida do percurso inteiro — recreio, sala, cerimônia — a lembrança fica completa.
Fotografias: Homero Xavier
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